Bastava o sol descer por trás dos
coqueirais de Tejipió, nos arredores de Recife, e a turma se achegava no
terreiro da sua casa. Lá estava seu Flaviano em sua espreguiçadeira, cachimbo
fumegante, fumaça em espiral, deitando falação. Um por um prestamos atenção em
todos os detalhes daquelas conversas. Só era interrompido quando dona Severina,
sua mãe – já muito velha, cega, filha de escravos −, o advertia sobre os
exageros. Nada havia de verdade, mas belas mentiras nos ditos de seu Flaviano. E
quando ele notava um olhar duvidoso nos presentes, levantava, se desfazia do
cachimbo e advertia: “Tão pensando que é mentira?”, e sentenciava: “Sumam, nunca
mais me apareçam!”.
Ao contrário do que muitos pensam, éramos todos crianças, todavia sabíamos que nada
havia de verdade naquilo que ele nos contava, recontava e reinventava. Eram pérolas
saídas daquela boca entortada pelo velho cachimbo guardado – bem
me lembro – nas frestas das paredes nuas daquela casinha simples
que o abrigava. Muitos pensam ao
contrário, seu Flaviano não disfarçava tão bem quanto mentia!
Seja bem vindo Carlos! Os seus textos - amenos - cheio de elegantes passagens, lições de vida e amenidades profundas, nos enebriam, alegram e satisfazem o amago muitas vezes definhado pela sobriedade da vida.
ResponderExcluirRau Ferreira
"Ao contrário do que muitos pensam, muitos pensam ao contrário" e, depois de incorporar em minha vida os trocadilho tipo esse, de Jésus Rocha, segundo me consta, eis que meu amigo-irmão Carlos Almeida o transforma em título e lema de blog. Parabéns! Ávida é a vida que redunda na reflexão e a reflexão redunda em vida ávida!
ResponderExcluirAo contrário do que muitos pensam, muitos pensam ao contrário. Esse com certeza será lema de grandes textos reflexivos. Parabéns Carlos.
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