Em tempos
de copa do mundo poucos assuntos são tão palpitantes quanto o futebol. E mesmo na
nossa infância, quando as transmissões se davam pelas ondas do
rádio, eles eram tão recorrentes quanto agora com a parafernália do terceiro
Milênio. Conhecíamos os alemães pela TV ainda incipiente, através
do “Combate”, seriado que os mostravam terríveis sanguinários. Então
a meninada se juntava em torno da espreguiçadeira do mentiroso – com todo
respeito! – para ouvir suas fabulosas mentiras. O assunto daquele dia era a copa
de 66 e lá estavam os alemães (quase papafigos), possíveis adversários do
Brasil: “Pelé e Garrincha tavam lascados”, comentava o velho Flaviano, homem vivido
nas batalhas de além-mar, conhecedor da “perversidade” alemã. Pelo que víamos
no seriado, não seria um jogo de futebol, mas uma batalha! “A seleção
brasileira bem que poderia ter levado o zagueiro Tará, ex-Santa Cruz. Vocês não vão acreditar, Tará jogava
com uma Gillette enfiada nas chuteiras. Não ia ter alemão que chegasse à área
brasileira”, afirmava Seu Flaviano.
Muitos pensam ao contrário: Os
alemães não eram o que pintávamos; Tará nunca foi zagueiro e, na copa de 66, já
estava há muito aposentado. Quanto à Gillette enfiada nas chuteiras, seu
Flaviano tinha provas cabais, mas o sujeito que lhe havia feito tal confidência, infelizmente,
não estava mais entre nós. Tínhamos que confiar em suas palavras. E quem de nós
duvidaria!?
...pois bem, na nossa lembrança mais recente, uma amiga podia, sabia e fazia tudo, inclusive mentir nisso tudo. Mas a gente mais cedo ou mais tarde nem chamava de mentira e passava a encarar como invencionice, autoafirmação e por ai vai e se, muitos pensam, ao contrário, muitos pensam que pensam, pois nem sempre pensam o que pensam: a parafernália do 3º Milênio tem sido instrumento das piores mentiras. E muitos a creditam verdadeiras!
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