quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Errado pra cachorro!


Era ainda a primeira metade da década de 60. Os filhos de seu Tuta e dona Geraldina já estavam crescidos ou não queriam “acender vela” para Eliane e Nonato, daí eu era convidado pela mãe da moça a prestar esse papel. Lá íamos eu, Lila e Nonato, o namorado. No Cine São José, em Jaboatão - que nem sonhava ser “dos Guararapes” - como já combinado, eles entravam para assistir à sessão e eu ficava à porta trocando meus gibis. Um desses filmes eu guardo bem na lembrança, era “Errado pra Cachorro”, Jerry Lewis no papel principal. Os namorados depois me contariam o filme tim-tim por tim-tim, para que não caíssemos em contradição na hora de prestar contas da companhia de Lila, a filha de seu Tuta.  

Eu me fartava com as histórias dos gibis dos colegas. Tornei-me perito em memorizar e enfeitar aquelas histórias em quadrinho para encher a vista e os ouvidos daqueles que se aventurassem a uma troca: Um gibi meu valia, no mínimo, por dois dos circunstantes frequentadores do cinema. Dava ênfase a cada frase memorizada com capricho. Precisava levar novos gibis para casa, e não havendo dinheiro para compra-los, apelava para a artimanha dos contos fabulosos. Sempre deu certo! Lembrei-me desses episódios hoje, pela manhã, quando merendava num dos quiosques da Central de Aulas da UEPB, o já tão popular Titanic.

Um cãozinho faminto se achegou à mesa onde me encontrava quando alguém, resmungando, o expulsa do recinto. Em seguida vem a legenda: “Não tenho cachorros pra dar de comer”. Ignorando o gesto e a pessoa lembrei-me de uma estória que ouvira no ônibus dos estudantes, ontem, à caminho da universidade, pela boca da professora Vanessa. O episódio do quiosque era o mesmo, agora uma cadelinha com talento para atriz. Conta Vanessa que a cadela a olhava com os olhos teatrais, depois arrastava as patinhas pelo chão, causando dó aos que se encontravam ao redor da mesa. Uma vez servida e saciada a cadela saiu à francesa, sem nenhum sinal que denotasse defeito físico ou coisa que o valha. Saiu descaradamente como se teatro fizesse.

"A cadela demonstrava mais talento que Fernanda Montenegro, a diva do teatro brasileiro", assegura Vanessa. Ao contrário do que muitos pensam errada pra cachorro, estava o dono daquele quiosque!

Nenhum comentário :

Postar um comentário