sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Um fio de humildade

Por favor! Por obséquio! Muito obrigado! Bom dia! Boa tarde! Boa noite... Essas raridades, ou parte delas, eu as aprendi com meus pais. Muito mais aprendi com meu sogro, Silvestre Batista. Penso que seu Silvestre levou ao túmulo e os sepultou consigo. Há coisas que a gente aprende no périplo pela vida afora, às vezes, a custa de muita dor. Mas se aprende. Há uma distância enorme entre aprender e praticar, vivenciar, presentear ao outro ou aos outros a lição apreendida.
Eu, por exemplo, aprendi com muita dor a pedir desculpas e perdão. Da mesma forma aprendi a desculpar e perdoar. Não é fácil, é um exercício que se faz em busca de crescimento espiritual e não só por isso, pois pareceria barganhar com a eternidade ou coisa que o valha, dependendo de pontos de vista. Ao túmulo, a exemplo de Silvestre, levarei as desculpas e perdões que pedi; as desculpas e perdões que concedi. Quem me conhece sabe e atesta o que escrevo. Alguns episódios públicos, inclusive, avalizam o que escrevo: Dito e feito!
Há um episódio, porém, que levarei ao túmulo como imensurável incômodo, algo que o tempo não conseguiu deletar/excluir da minha memória. Fui rude, áspero e impiedoso com um superior nos tempos de Carmelo, o Frei Pio Moreira. Homem culto, polido, comprometido com os votos que fizera. Tomando as dores de um companheiro seminarista, entrei num embate com o Frei Pio e disse-lhe, em meio a uma liturgia de Missa Campal, que “tinha por ele a mesma antipatia que ele nutria por mim”. Uma fogueira ao centro, os membros da fraternidade em volta, e um recorte de papel onde seria posto o que se queria esquecer, perdoar ou ser perdoado.
Relatos me foram feitos que o Frei Pio Moreira recostou-se à parede do Convento (Camocim de São Félix) e, com lábios trêmulos, ouvira meu desabafo. Veio o Abraço da Paz, nos abraçamos, seguiram-se os ritos da Santa Missa. Permanecemos no mesmo patamar dantes. Dali a poucos meses deixei o seminário por questões outras, certamente por não ser vocacionado. Nunca tive a chance de exercer um fio sequer de humildade. Não me desculpei, nem pedi perdão. Hoje até que poderia, amadurecido pelo tempo. Ao contrário do que muitos pensam, não há como fazê-lo: Frei Pio Moreira não está mais entre nós.
E isto também levarei ao túmulo!

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