Viagem no tempo II
Insurreição - um vagão velho de trem -
era aquela estaçãozinha ferroviária, encravada na Serra das Russas, a menor existente naquele percurso rumo à
Belo Jardim. O barulho do trem sobre os trilhos estão gravados em minha memória.
Era musical com a locomotiva movida à lenha, puxando o comboio: Chá-com-pão-bolacha-não,
chá-com-pão-bolacha-não! Em Caruaru, além de guloseimas, nos eram oferecidos os
bonecos do mestre Vitalino, a arte de barro tinha lugar na volta, encomendadas pelos
amigos de Tejipió. A feira de Caruaru estava ali, bem ao lado, com suas tralhas,
mangaios e encantos: Com “... cesto, balaio, corda, tamanco, gréia, tem boi-tatu;
tem fumo, tem tabaqueiro; feito de chifre de boi zebu; caneco a cuvitêro, penêra
boa e mé de uruçú; tem carça de arvorada, que é pra matuto não andá nú...”.
E
aquele “imbua de ferro” ziguezagueava até denunciar sua chegada
passando pela lagoa de Itacaité, lugarejo onde nascera meu avô paterno,
seu Cândico, chamado Cãido pela vizinhança. Não tive a felicidade de
conhecer minhas avós Maria e Luzia, paterna e materna respectivamente.
Meu avô paterno nascera em Cavalo Morto, comunidade ao norte daquele
município. Pela janela já se via as águas do Bitury, cortando as terras
da Lagoa do Capim, fazenda que deu origem ao município de Belo Jardim.
Todos nós nos posicionávamos às janelas para receber os acenos vindos da
casa do tio Zé Primo e tia Quitéria. Lá estavam eles, a espreita do
comboio, recém-chegado de Recife.
A
algazarra, agora, era pela descida onde pessoas se aglomeravam às
portas e estribos dos vagões. As malas dispostas na calçada da velha
estação ferroviária, hoje ao relento, trazendo as marcas do tempo e
descuido com sua arquitetura e história. A carroça já estava abarrotada
de trecos desembarcados, nós a acompanhávamos e tudo aquilo já era
prenúncio da grande festa de São Sebastião, em seu dia 20 de janeiro. Os
abraços quase não cessavam à chegada e a casa estava cheia de
receptividade, gente e alegria. O almoço já estava servido e a mesa
posta, invariavelmente, com fava, macaxeira, farofa de jerimum, carne de
sol e muita conversa para se colocar os assuntos em dia. Ali estávamos
todos nós num clima de confraternização em família. Ao contrário do que
muitos pensam, os dias que se seguiriam eram de muita música, encontros e
cultura também na religiosidade.
Oh saudade daqueles passeios pra Belo Jardim com meus primos e tia Do Carmo...=)
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