domingo, 30 de novembro de 2014

O refúgio da leitura

Dia enfadonho de trabalho árduo e pouco lazer. A manhã desse domingo foi de céu claro, sol forte e convidativo às tarefas já tão corriqueiras no, agora, Casarão Silvestre Batista, assim batizado pelo colega Evaldo Brasil. O enfado nos convida a permanecer em casa com familiares e amigos. TV ligada, não dá para sair em busca de uma boa música, destoando de todos que optam pela programação televisiva.
Aí ocorre aquela coisa, inevitável, propiciada pela comodidade do controle remoto: busca-se algo diferente, que seja do agrado geral. Remota, sabe-se, é a possibilidade de se encontrar algo diferente e, mais difícil ainda, agradável. A TV aberta abriu falência faz tempo, muitos ainda não se deram conta, inclusive os próprios diretores de programação. O público fica a reboque dessa má qualidade, habituado que está com o chamado gosto médio, tão combatido pelo saudoso Ariano Suassuna. Mas, justiça seja feita, nem tudo se perdeu neste domingo. Em meio ao lixo, uma pérola! Ouço uma chamada inicial de uma matéria tratando da possível melhor nota do Enem 2014. Achego-me e me junto aos demais telespectadores para assistir ao depoimento de João Vitor, um jovem cearense de apenas 16 anos, estudante de escola pública, que cometeu a proeza de acertar 172 das 180 questões propostas pelo Enem: João acertou 95% da prova!

A vida do João, a dedicação de sua mãe frente às dificuldades de mãe/provedora da família, já é, em si, uma proeza. Mas esse menino sabido, diz ter sido vítima de bulking, por ter o habito da leitura. A biblioteca onde frequenta é seu melhor refúgio. O Brasil de tantos brasis, ao contrário do que muitos pensam, precisa aprender a ensinar aos filhos dessa Pátria-Amada-Mãe-Gentil que só há uma a saída:
O refúgio da leitura, como bem faz esse João!

quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Último adeus



Era ainda muito criança quando a conheci. Lembro da viagem, estrada afora, cujos detalhes se foram, apagados pelo tempo. Viva, muito viva, tenho à memória, todo aquele cenário da Rio Una que me acolheu nos idos da década de 60.  Antônio Florisvaldo, meu irmão mais velho, me levara para conhecer sua noiva e familiares, o ano era 1962.


O lugarejo localiza-se no município de Barreiros, zona canavieira, ao Sul de Pernambuco. Um vasto campo arborizado, gado pastando, carros-de-boi fazendo o pequeno tráfego de canas e mangaios enchiam minha visão pueril. Trago na memória, bem fresquinhas, as lembranças do banhos com sabonetes Eucalol, dos quais ainda sinto o cheiro ao fechar os olhos. Os filmes de Chaplin, do Gordo e o Magro, o amendoim à entrada do pequeno cinema... Tudo, tudo às expensas dos anfitriões.



A vila de Rio Una abrigava, em seu casario, os trabalhadores da usina do mesmo nome. Seu Manoel Fernandes, sogro do meu irmão e pai de Graça, a noiva, era alto funcionário na Rio Una com suas caldeiras e moendas já em processo de falência. Era homem de fisionomia fechada contrastando com seu largo sorriso. Mas é de Dona Josélia que pretendo lembrar. Aquela mulher de voz branda, traços, passos leves e finos gestos, era por assim dizer uma verdadeira lady inglesa. Este contato com dona Joselita (assim a tratávamos) abre, para mim, uma janela para o mundo da polidez. Não era de se notar que aquela senhora fosse mãe de seus oito filhos com seus tantos afazeres de dona-de-casa.


Após a travessia, lembro bem, aceno aos que se encontram na outra margem do rio. Lá, também, estava dona Joselita. Havia quase trinta anos quando reencontro dona Joselita com minha cunhada Gracinha, o sobrinho Toni, alguns filhos netos. Mais uma vez, agora na longínqua Santo André, ABC paulista, aceno com mais um adeus.


Hoje, pela manhã, recebo notícia de sua partida aos 94 anos: Último adeus!

domingo, 23 de novembro de 2014

Seu Lunga: Só fazendo de conta!

Diante de tarefas exaustivas, lendo, ruminando e elaborando trabalhos da graduação em Filosofia, além de outras labutas cotidianas, não me tenho dado ao prazer de escrever "Ao contrário do que muitos pensam". Esta tarde, porém, numa dessas garimpagens pela Net e suas redes sociais, deparo-me com uma notícia que me faz pausar os trabalhos e escrever algo a respeito.

Recorro, então, ao primeiro endereço que me sirva um dicionário para entender o significado da palavra risível. Lá encontrei, por exemplo, que “Risível significa qualquer coisa que provoque, cause e que seja digna de riso, é qualquer acontecimento, fato ou pessoa que faça um indivíduo rir. Risível pode ser atribuído a uma pessoa específica, ou a fatos que aconteceram” Outra versão sugere que “Risível também pode ser usado em um sentido pejorativo, como algo que seja ridículo, grotesco, que faz rir, mas não em um sentido agradável, e sim rir de um fato patético, que não necessariamente é cômico”.


Não importa em qual versão se enquadrava Joaquim dos Santos Rodrigues, importa, sim, o quão importante ele é e continuará sendo para nossa cultura nordestina. Figura “folclórica” cuja fama transcendia o Nordeste, Seu Lunga, dotado de muita sabedoria e esperteza, nos brindou por muitas décadas com suas tiradas “mal-humoradas”, pérolas de alguém que – ao contrário do que muitos pensam – vivia muitíssimo de bem com a vida.

Fosse perguntado, por algum desavisado, sobre se morrera, realmente, certamente que Seu Lunga responderia a seu modo e de bate-pronto, com toda verve do humor latente e voraz: 

“Morri não, peste: Tô só fazendo de conta!”

domingo, 9 de novembro de 2014

O amor, sempre o amor!


O amor não pede licença, não pede passagem, não se anuncia, chega, invade. O amor é expansivo, ocupa o ser por inteiro e o leva a reboque de suas acontecências. Antes, porém, ele se apresenta em forma de paixão, coisa avassaladora, insustentável. Sérgio Cortella, em seu filosofar, nos ensina que o apaixonado perde a noção de tempo, não dorme direito e acaba se esgotando. Que ela se transforme em amor, o mais breve possível, como ocorreu com Fernando Almeida, meu irmão caçula. Fernando bem que podia sucumbir à dissimulação, seria até mais cômodo, mas não percorreu este caminho e encarou a realidade, o preconceito que poderia advir de sua tomada de posição. Havia pouco tempo após sua viuvez quando conheceu a bela e jovem Denilda Andrade.

O primeiro encontro, ao contrário do que muitos pensam, foi marcado para um banco de praça, ponto central do município de Belo Jardim-PE, onde residem. Há quem opine pela discrição, com um namoro levado às escondidas, distante dos olhos atentos, bisbilhoteiros da comunidade. Bem próximo dali está o local onde deu origem à Festa das Marocas, onde um grupo de senhoras não deixavam em brancas nuvens qualquer detalhe da vida alheia. Maroca era uma personagem “fofoqueira” de Redenção, novela de sucesso retumbante lá pelos meados da década de 60. Havia uma variedade de marocas, Fernando bem sabe, mas seu gesto é espelho do caráter desse Almeida que entra de cabeça nas coisas em que acredita e, em se tratando de amor, não abrirá mão de ser e fazer Denida feliz.

Com a bênção e aquiescência dos filhos, irmãos, demais parentes e amigos, contraiu núpcias com Denilda, em 25 de outubro passado, inaugurando uma nova etapa em sua vida, em busca de felicidade compartilhada: O amor, sempre o amor!