segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

Bonifácio Chuá-chuá


Lá pelos idos de 1950, postes de madeira fixados e fiação instalada era chegada a hora da população festejar o advento da iluminação pública com energia movida por um motor de 40 cavalos de força, apelidado de "Usina de Luz". Seu Jaime, o encarregado da manutenção do motor, ao acioná-lo, vê seu intento fracassado. Volta a acionar e nada. Mais uma tentativa: Chuá-chuá-chuá... Era o barulho que se ouvia e frustrava a multidão ansiosa. A inauguração deu n’água e o “vexame” se espalha mundo afora. Para azar do prefeito e infortúnio de Bonifácio  Batista, o seresteiro da cidade, as rádios tocavam o grande sucesso do momento “Chuá-chuá”, na voz de Vicente Celestino. Naquela noite enluarada e sem a luz prometida, um coro, talvez por capricho da oposição, chama a atenção de Manuel Rodrigues, o prefeito, que junta seus “cabras” e parte para acabar com a farra.

“E a fonte a cantar, chuá, chuá; E a água a correr, Chuê, chuê... Bonifácio, com seu violão, vinha à frente do cortejo tocando, cantando e animando os seresteiros. Numa paralela à rua principal, já dobrando para sair na Igreja Matriz, vê-se os faróis acesos, de um automóvel parado. Incandescidos pela luz forte nenhum dos seresteiros imagina do que se tratara. Descem do carro o prefeito e seus seguranças rumando em direção ao som do violão. O cantor, entusiasmado, pensa ser mais um a engrossar o cortejo. Então Bonifácio aumenta o volume e segue na direção da luz incandesceste.
Ouve-se um grito na multidão, agora sem a entonação dantes, e sem o coro do chuá-chuá. A multidão se dispersa na escuridão da noite, mas ao luar dá para ver um vulto estranho correndo com algo dependurado ao pescoço. Conta Vicente Simão, conhecedor amiúde das acontecências de seis décadas na cidade de Esperança, que aquele vulto esquisito era Bonifácio, cujo pescoço trazia um violão despedaçado e um emaranhado de cordas presas às partes de madeira que compunham o instrumento. Aquele episódio deu fim a um violão, mas serviu de batismo a um grande seresteiro: Bonifácio, o Chuá-chuá!

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