Lá pelos idos de 1950, postes de madeira fixados e fiação
instalada era chegada a hora da população festejar o advento da iluminação
pública com energia movida por um motor de 40 cavalos de força, apelidado de "Usina
de Luz". Seu Jaime, o encarregado da manutenção do motor, ao acioná-lo, vê
seu intento fracassado. Volta a acionar e nada. Mais uma tentativa:
Chuá-chuá-chuá... Era o barulho que se ouvia e frustrava a multidão ansiosa. A
inauguração deu n’água e o “vexame” se espalha mundo afora. Para azar do
prefeito e infortúnio de Bonifácio Batista, o seresteiro da cidade, as rádios tocavam o
grande sucesso do momento “Chuá-chuá”, na voz de Vicente Celestino. Naquela noite
enluarada e sem a luz prometida, um coro, talvez por capricho da oposição, chama
a atenção de Manuel Rodrigues, o prefeito, que junta seus “cabras” e parte para
acabar com a farra.
“E a fonte a cantar, chuá, chuá; E a água a correr, Chuê, chuê...
Bonifácio, com seu violão, vinha à frente do cortejo tocando, cantando e
animando os seresteiros. Numa paralela à rua principal, já dobrando para sair
na Igreja Matriz, vê-se os faróis acesos, de um automóvel parado. Incandescidos
pela luz forte nenhum dos seresteiros imagina do que se tratara. Descem do carro
o prefeito e seus seguranças rumando em direção ao som do violão. O cantor, entusiasmado,
pensa ser mais um a engrossar o cortejo. Então Bonifácio aumenta o volume e segue
na direção da luz incandesceste.
Ouve-se um grito na multidão, agora sem a
entonação dantes, e sem o coro do chuá-chuá. A multidão se dispersa na
escuridão da noite, mas ao luar dá para ver um vulto estranho correndo com algo
dependurado ao pescoço. Conta Vicente Simão, conhecedor amiúde das
acontecências de seis décadas na cidade de Esperança, que aquele vulto esquisito
era Bonifácio, cujo pescoço trazia um violão despedaçado e um emaranhado de
cordas presas às partes de madeira que compunham o instrumento. Aquele episódio
deu fim a um violão, mas serviu de batismo a um grande seresteiro: Bonifácio, o Chuá-chuá!
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