A nova residência, à beira do rio, um barraco bem
acabado de madeira descartada dos velhos vagões de trem, era a mais modesta das
moradas da Rua Arês, no bairro de Tejipió, ali nos arredores de Recife.
Ao final da rua tínhamos uma campina onde buscávamos a água que nos servia ao
consumo e até para o beber. Na campina havia um casebre ainda mais modesto
que o nosso, onde morava o Guima, meu melhor amigo. Seu Paulino, o caseiro, tinha
mais três filhos além de Guima: duas meninas e um menino cujos nomes me fogem
da lembrança.
Aquele casebre mal os abrigava das noites
invernosas, era coberto de um zinco envelhecido pelo tempo. À noite se via
estrelas salpicando o chão, permitidas pelas frestas do teto. E se não os
abrigava tão bem das chuvas, trazia um calor enorme nos dias quentes de verão. Mas
tudo corria bem, levava-se uma vida alegre, mesmo naquela pobreza material. Brincávamos
pela campina, era uma meninada divertida apesar dos pesares. Até que chegou o
Natal. Ao contrário do que muitos pensam, éramos privilegiados, meu pai, ferroviário, recebia os nossos presentes da Great Western. Foi-se a noite de Natal, dia amanhecido corri para mostrar meu presente de Papai Noel. Na casa do seu Paulino não se tinha notícias desse personagem natalino. Esforcei-me em explicar a Guima e seus irmãos que Papai Noel havia passado lá em casa e nos brindado. Caí na real ao ver Guima, o filho mais velho, lhe indagar: “Papai, cadê Papai Noel?”. Seu Paulino nada respondeu, deixando cair lágrimas dos olhos!
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