quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

Cadê Papai Noel?


Morávamos às margens do Rio Tejipió, em 1965, quando descobri aos dez anos de idade a inexistência do Papai Noel. Até então tudo era mágico neste período natalino, nossos sapatos postos embaixo da cama para receber os presentes que nunca faltaram. Era maravilhoso acordar e encontrá-los bem ali, como de costume. Meus irmãos e eu fazíamos aquela farra a cada manhã despertada com o desembrulhar papéis dos presentes.

A nova residência, à beira do rio, um barraco bem acabado de madeira descartada dos velhos vagões de trem, era a mais modesta das moradas da Rua Arês, no bairro de Tejipió, ali nos arredores de Recife. Ao final da rua tínhamos uma campina onde buscávamos a água que nos servia ao consumo e até para o beber. Na campina havia um casebre ainda mais modesto que o nosso, onde morava o Guima, meu melhor amigo. Seu Paulino, o caseiro, tinha mais três filhos além de Guima: duas meninas e um menino cujos nomes me fogem da lembrança.
Aquele casebre mal os abrigava das noites invernosas, era coberto de um zinco envelhecido pelo tempo. À noite se via estrelas salpicando o chão, permitidas pelas frestas do teto. E se não os abrigava tão bem das chuvas, trazia um calor enorme nos dias quentes de verão. Mas tudo corria bem, levava-se uma vida alegre, mesmo naquela pobreza material. Brincávamos pela campina, era uma meninada divertida apesar dos pesares. Até que chegou o Natal.
Ao contrário do que muitos pensam, éramos privilegiados, meu pai, ferroviário, recebia os nossos presentes da Great Western. Foi-se a noite de Natal, dia amanhecido corri para mostrar meu presente de Papai Noel. Na casa do seu Paulino não se tinha notícias desse personagem natalino. Esforcei-me em explicar a Guima e seus irmãos que Papai Noel havia passado lá em casa e nos brindado. Caí na real ao ver Guima, o filho mais velho, lhe indagar: “Papai, cadê Papai Noel?”. Seu Paulino nada respondeu, deixando cair lágrimas dos olhos!

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