quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

Falta d’água é falta de gestão

“Quando chovia muito, a baixada Bom Retiro ficava a Veneza brasileira. A enchente tomava conta de tudo. As famílias todas tinham barco e, durante a noite, passeavam nas ruas inundadas, com iluminação nas barcas, cantando e fazendo serenata. Para nós, os moços, aquilo era uma alegria, quando o Tietê transbordava”

O texto acima não trata de ficção, está na centésima página do célebre MEMÓRIA E SOCIEDADE - lembranças de velhos, da socióloga Ecléa Bosi, leitura que recomendo. É o depoimento de quem viveu, ainda jovem, a São Paulo dos anos vinte, no limiar do século passado. Donde podemos concluir que a seca que assola a maior cidade do Brasil é, mais do que nunca, falta de gestão das águas. Isso não é desleixo somente peculiar à capital paulista, mas reflexo de um país que não se deu conta – e faz tempo, como se pode ver – que água é um bem vital. Não se trata de líquido volátil, mas diante do crescimento populacional, principalmente nas grandes metrópoles brasileiras, inviabiliza o modo de vida irresponsável dos seus habitantes e governantes. Se por um lado falta gestão, por outro falta o uso racional dessa preciosidade da natureza.

Fico a imaginar uma São Paulo cujo desenvolvimento, nas últimas seis décadas, fosse acompanhado pelo cuidado com a gestão da água. A construção de represas; incentivo à construção de cisternas proporcionais às habitações verticais e horizontais, comerciais ou residenciais; educação para o uso e reuso além do zelo com os mananciais (nascentes, rios e afluentes), teríamos água sem que precisássemos da água de esgotos tratada com o mínimo de potabilidade.

Aí faríamos festa quando – e se – o Tietê transbordasse.

Nenhum comentário :

Postar um comentário