quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

Liberdade, Igualdade e Fraternidade

"Jesus Cristo veio ao mundo / pra acabar com as injustiças / quando tinha treze anos / rezou a primeira missa / viveu por aí rodando / e depois de quinze anos / sentou praça na polícia. Jesus nasceu em Belém / conseguiu sair dali / passou por Tramataí / por Guarabira também / nessa viagem de Trem / foi parar no Entroncamento / não encontrando aposento / dormiu na casa do cabo / comeu cuscuz com quiabo / tá no Velho Testamento".
Aqui temos Zé Limeira, “O Poeta do Absurdo”, cujos versos pra lá de extravagantes, hilários e cômicos estão na obra do saudoso paraibano Orlando Tejo. Vê-se logo que o poeta não tinha compromisso com a temporalidade e, ao contrário do que muitos pensam, nunca sofreu consequências drásticas por versar sobre Jesus Cristo, o maior símbolo espiritual do catolicismo, mundo afora. Eu, como admirador de sua obra e sua história, tive oportunidade de declamar esses mesmos versos para uma plateia formada por fiéis, padres e bispos, arrancando risos de todos sem exceção. É que nós somos tolerantes e não vemos aí nenhuma chacota ao cristianismo nem a figura do Cristo.
Não é o caso, por exemplo, do episódio das charges do jornal francês Charlie Hebdo que tratou com escárnio o profeta Maomé, segundo a visão do islamismo. Comungo com a opinião daqueles que veem falta de respeito (no mínimo provocação) às diferenças e, em se tratando de religião, a coisa toma contornos ainda mais sérios. A liberdade de imprensa - da qual não abro mão - não dá margem ao ultraje retratado nas charges polêmicas de 2005 e de agora. Emocionei-me com os franceses saindo às ruas, lotando praças em protesto à intolerância, mas não concebo a ideia de saírem aos milhões em busca de um exemplar que reproduz a provocação e a ira dos sanguinários fundamentalistas. Há um equívoco histórico de um lado, uma matança infame do outro. Até onde vão essas atrocidades? Liberdade, Igualdade e Fraternidade: Será que junto aos jornalistas mortos também enterramos os ideais da Revolução Francesa?!

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