quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Amigo, me fale de Deus!

Faz dias fui convidado a falar sobre Deus. Ao contrário do que muitos pensam, empreitada difícil de escritor, sempre com a conspiração de uma amiga. Então falarei sobre Ele contando um sonho que beirava o real quando estava a caminho de São Saruê a convite do Vate Manoel Camilo, a quem tomo emprestado duas estrofes: “Iniciei a viagem / as quatro da madrugada / tomei o carro da brisa / passei pela alvorada / junto do quebrar da barra / eu vi a aurora abismada. / Pela aragem matutina / eu avistei bem defronte / a irmã da linda aurora / que se banhava na fonte / já o sol vinha espargindo / no além do horizonte”.
Há entre vocês alguém que imaginará ter ouvido tal história, mas qualquer coincidência é mera semelhança. Senti um barulho estranho, o mundo parou, percebi a pane e fiquei extasiado. Nem pude contemplar a beleza que havia naquelas paisagens. Passado algum tempo me dei conta de que não seguiria viagem, mesmo tão próximo do meu destino. Já havia passado “lá onde é ali mesmo”, via ao longe um sinal do Asteróide b612: São Saruê estava a uns passos. Apressei-me em consertar o automóvel, não tão móvel nem tão auto, naqueles instantes, quando me apareceu a figura de uma criança que mais se assemelhava uma princesa! Clara como a luz do Sol, ela me dirigia um pedido:
- Conte-me uma história!
Sei que vocês, mais do que nunca, têm a certeza da desconfiança, imaginando um conto parecido. Eu trato de um sonho, e como os sonhos não seguem roteiros, sigo contando o meu. Então respondi negativamente:
- É que eu não sei contar histórias!
- Não é difícil contar histórias. Mas, se não sabe, fale-me de Deus!
- Estou apressado, tenho que seguir viagem e, depois, não lembro nenhuma história que fale de Deus.
- Os homens vivem sempre com pressa, vêm a vida de um modo tão vulgar...
Interrompi o diálogo porque me sentia comprometido com o discurso daquele ser tão meigo e tão sutil, mas com simplicidade e muitos signos nas palavras.
- Você me desculpe, mas preciso consertar essa pane e seguir viagem. Tenho muita coisa a conhecer e desfrutar...
- Os homens vêm muitas imagens, mas não dão conta de contemplá-las, não têm tempo de ler seus significados. Eles têm muito de tudo, mas nada do que têm os bastam. Os homens vivem de contas, contas, contas...
- É que a vida é muito dura, a gente trabalha e conta pra sobreviver...
- Pois Deus nem precisa contar, os homens podiam aprender com Ele!
- Você me pede pra contar histórias, depois diz que os homens vivem de contar e, agora, me diz que Deus não sabe de contas!
- É tudo muito simples. Os homens fazem de conta e Ele nem contar precisa. Deus só sabe contar até um...
- Deus... Até um! Agora me vem você com essa história...
- Sim! Veja ao redor, entre as árvores quantas existem semelhantes. Seus troncos, galhos e folhas. Você pode encontrá-las bem parecidas, nunca semelhantes.
- Ah, estou compreendendo...
- Procure no mundo um Carlos Almeida semelhante a você e não encontrará. Mesmo se houvesse um seu irmão gêmeo, jamais seriam idênticos. Entendeu?!
- Entendi: Deus só sabe contar até um!
Do nada meu automóvel resolveu funcionar. Bem rápido me despedi daquela clara e bela princesa, sem antes ouvir outro pedido e já me tratando de amigo:
- Amigo, por favor, me conte uma história!

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