quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Os perus de Silvestre

Silvestre Batista ficou com uma “pulga na orelha” com a história que dona Judi de Lourdes, sua esposa, lhe contara sobre o barulho no galinheiro suscitando um ladrão de galinhas. Pelo sim, pelo talvez, o dono da casa resolveu investigar até flagrar o elemento em seu malfeito. Passou, então, a dar incertas no quintal certo de que conseguiria desvendar o mistério levantado pela "patroa". Não demora muito e ele dá de cara com o desocupado dentro do seu muro. Invasão de propriedade é crime, segundo Art. 5º inciso XI da Constituição Federal. A casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial.
Os perus de Silvestre
Por este prisma Silvestre estava coberto de razão, o meliante carecia ser descoberto e banido da sua propriedade. Um susto era o que almejava, iria também se divertir com a situação. Ali não havia nada de valor para que alguém se ocupasse em pular muro, fazer balbúrdia e, ainda, levar algumas de suas aves. Teria que proteger seu galinheiro, como pedira Judi, dias atrás. E se encontrasse mesmo o tal ladrão, como reagiria sabendo que viera com propósito firme de roubar.
Silvestre nem imaginava o que veria, naquela tarde ensolarada. Como de costume abriu o portão, com muito cuidado para não provocar nenhum ruído. Com passos lentos, sorrateiro estava ali, diante do dito cujo. Narrava Silvestre que o indivíduo, portando um saquinho de milho, se aproximava de uma perua que se encontrava à engorda para o Natal. O cabra não era assim tão “desasnado”, contava Silvestre, com seu sorriso longo, ao lembrar do caso. Ele jogava uns grãozinhos de milho e esperava a perua bicá-los. Quando a perua bicava, ele se aproximava tentando pegá-la. Ela, então, dava um salto solto para trás e, impaciente, ele jogava mais grãos. Essa peleja levou alguns minutos até que se deu a interferência do dono da casa.
A tentativa de roubo acabou ali. Ao ouvir um conselho de Silvestre Batista o sujeito disparou em direção ao muro da Maternidade São Francisco de Assis, tentando se agarrar a uma fileira de tijolos que se desprendeu e caiu junto com ele. Rápido se recompôs e, noutra tentativa, saltou para o quintal vizinho e desapareceu. O episódio me foi contado pelo próprio Silvestre e, ao lhe perguntar o que dissera ao malandro frustrado, me respondeu que só o advertira para que se preparasse melhor:
- Você vai ter que treinar muito pra roubar essa perua, seu cabra!

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