sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

As Brumas ou a cor do vestido?

"... Longos braços de rocha negra, áspera e alcantilada, estendiam-se pelo oceano, a partir da costa. Quando o sol brilhava, a paisagem podia ser dourada e brilhante, o céu e a água luziam como o monte de jóias..." Pura poesia e, adiante, "Uma pedra-da-lua que por vezes refletia o brilho do céu e do mar; mas hoje, no nevoeiro, até mesmo a jóia parecia opaca".
Lia o texto acima, passava da meia-noite, já não era ontem, era hoje. Ouço, então, aquele sinalzinho peculiar dessas parafernálias cibernéticas indicando que alguém (de algures) me enviara mensagem. Havia passado parte da noite ruminando um texto filosófico, Filosofia Social e Política e, pasmem os mortais, queria refrescar a mente com algo leve, que me levasse ao sono e repouso merecidos. Mas e a mensagem! De onde viera e do que tratava? Esse drama não é comum nos dias de hoje, deve haver zilhões de pessoas imunes a ele por esse mundão afora.
Ler ou não ler: Eis a questão! Não me contive, chequei. “Qual é a cor deste vestido?”, era a coqueluche do momento. Preciso esclarecer para essas “tribos” que coqueluche é uma expressão já em desuso, usada para indicar algo de muito extraordinário e em moda. Mas coqueluche – a bem da verdade – é uma doença bacteriana que atinge o sistema respiratório cujas complicações - convulsões, pneumonias e encefalopatias podem levar o indivíduo a óbito. Mas vamos à pérola da mensagem:
“Tudo começou quando uma internauta postou em seu Tumblr Swiked a imagem abaixo com a pergunta: "Gente, por favor, me ajudem! Este vestido é branco e dourado ou azul e preto? Eu e meus amigos não conseguimos chegar a um consenso e estamos enlouquecendo com isso!". Não demorou para os comentários pipocarem no Tumblr da jovem e, claro, algumas palavras referentes ao vestido subirem nos Trending Topics Mundiais #WhiteandGold. No Brasil também apareceram as menções #TheDress e Preto”. "E você, que cor consegue enxergar?!”.
Eu, por mim, prefiro as brumas, sejam quais forem. Morrer, mesmo, não morri. Mas estive perto do tédio. Fui dormir com a leveza que imaginara após haver retornado à releitura. Hoje, bem cedo, ao tomar o ônibus dos estudantes, lá estava o assunto em pauta: Nem cálculo, política, religião ou futebol discutiam: “Qual é a cor deste vestido?”, pra não dizer que não falei de flores.

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