O mundo é mesmo pequeno! Leio essa frase entre os
muitos e-mails que recebi pela passagem à vida sexagenária. É da lavra de
Regilene Rocha, tia da minha amiguinha Clara, cobrando uma história que lhe contara
Valber Matos, artista de boa estirpe, lá das bandas sertanejas. Valber não se
segura quando alguém toca em meu nome, o repertório é tirado do balaio de
contos debulhados de forma bem peculiar. Trata de uma viagem Brasília/Jampa. Aquele voo da “TUM” nos rendeu risos e muita tensão. A começar pelo meu embarque travestido num misto de Carlos e Jerimum. Sento e noto que à poltrona
ao lado havia uma criança aparentando seus seis aninhos. Imaginei ter que me
comportar devido àquela companhia que decerto dormiria, exigiria pouca ou nenhuma conversa. Logo conferi o ledo engano. Ela, de cara, se saiu com uma
pérola:
- O senhor é pobre, né!
- Ehhhhhh!
Respondi de modo bem arrastado já incorporando o
personagem. Aquilo era a senha para uma viagem muitíssimo divertida. Aí a menininha insistia em perguntar e eu caprichava nas
respostas. Antes mesmo da decolagem a aeronave “foi abaixo”. Aquela criança perguntava deixando brechas para
um bom riso? Falou da profissão dos pais e, ficando um pouco de pé, denunciou a
presença de um tio, deputado federal, bem ali, algumas poltronas à nossa frente:
- Hummm! Seus pais trabalham! E seu tio, o que ele
faz?
- Nada: Ele é deputado, eu num já disse!
Mais uma vez a aeronave desaba em riso. Servido o primeiro
lanche e eu receoso de tomar um bom vinho diante daquela criança que antes me
perguntara:
- O senhor bebe?
- Água: Só bebo água!
O personagem sempre em cena. Combinei com o comissário
de bordo me servir o vinho como se fora refrigerante. Ele acatou o pedido obsequioso,
combinando que me ofereceria e eu aceitaria. O carrinho se aproxima
e se dá o combinado:
- Isso aí não é refrigerante, não: Isso aí é bebida,
moço. O senhor disse que não bebia!
Outra vez a aeronave cai no riso. E assim fomos até
Maceió, onde a menina desembarcara. Houve participação efetiva e humorada do comissário
de bordo, juntando-se a nós, contando piadas. Fez questão, ainda, de nos avisar
que ali se daria a substituição da tripulação e sua sucessora não era dada ao
humor, deveríamos tomar cuidado dali em diante.
Dito e feito! Ao ouvir a primeira piada, interferiu
pedindo silêncio sob os protestos de todos os passageiros (todos). Bateu boca
com um e com outro e, não se conformando, solicitou meu desembarque. Eu ficaria
ali, em Maceió, ela chamaria a Polícia Federal. Houve enorme burburinho até que se chegou a um consenso. Eu
continuaria a viagem contando piada, mas sentado em minha poltrona e não mais
em pé. Minha vingança viria na decolagem quando aproveitei para contar, e todos ouvirem, um causo muito interessante:
- Era uma vez uma jovem que se apresentara, à entrada
da aeronave, como comissária de bordo. Acordei de um cochilo e descobri que empurrava
um carrinho de lanche: Ela, na verdade, era vendedora ambulante!
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