O episódio da enchente do açude de Orós, no
Ceará, é um marco na vida de muita gente. Lembro-me de pessoas ao pé do rádio
lá de casa, vinham à busca de notícias advindas do Ceará. Àquele tempo morávamos
na Rua Natividade Saldanha, em Cavaleiro, distrito de Jaboatão que muito tempo
depois vem a ser Jaboatão dos Guararapes. Tempos mais tarde me informei que
ocorrerá a 26 de março de 1960, em Limoeiro do Norte.
A data me serve como referência. Dali a pouco mudaríamos para o Totó,
onde moramos numa casa bem espaçosa, cercas vivas no quintal e um jardim com flores
diversas. Ouvi minha mãe responder à minha madrinha Tonhá numa conversa
vespertina com cadeiras na calçada:
- E aí, comadre Do Carmo! Como é mesmo essa
casa onde vocês vão morar?
- É uma casa bem espaçosa, comadre. Toda cercada
e com um jardim bem florido. Tem até um pé de presente-bom!
Aquela expressão presente-bom ficou “zunindo”
em meus ouvidos. Dormi e acordei “ruminando” aquilo no juízo. Deveria ser algo
muito belo, imaginava. Chegou o dia da mudança que para nós era uma festa, não
tínhamos a mínima noção do que era despedida nem o trabalho nas desarrumações e
arrumações bem peculiares à empreitada. Logo nos acostumamos à nova vida e
vizinhança. À esquerda tínhamos a família Ozório, seu Alberto e dona Carminha com
três filhos e uma filha, todos crianças como nós. Certa vez uma bola nossa, de
pequeno porte, embrenhou-se por entre a cerca de papoulas. Muito tempo se passou
até que a encontramos, após uma poda, e fizemos festa naquele dia.
Meus pais, ao final daquele ano, talvez 1961,
organizaram um pastoril natalino e eu fazia o papel do “véi”, só nos ensaios. A
Rua ainda não contava com iluminação elétrica, mas tudo era conversado às noites de luar
com cadeiras na calçada. As festas de Carnaval e São João aconteceriam dali pra
frente com toda a vizinhança envolvida e participante. Quando escuto “Gente
Humilde”, de Chico Buarque e Vinícius de Moraes, meu pensamento voa: “São
casas simples com cadeiras na calçada...”.
Foi nessa casa que fui passar umas férias...Me perdia dentro dela, de tantos cômodos que a casa tinha. Rsrs
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