Em meu último post, tratando de um susto que tivera,
fiz referência a Antônio Camelo. Esse alagoano de Murici, batizado Antônio
Camelo da Costa, tinha um currículo invejável, homem de rara integridade moral,
fino trato e de muita objetividade. Passou por todos os setores do jornalismo
do Diário de Pernambuco, onde chegara em 1946 como repórter. Era daqueles
executivos que não se escondia de quantos o procurassem. Já chegava na recepção
indagando “quem deseja falar comigo?”, nem deixava que sua secretária, Maristela
Souto, os anunciasse. Era muito simples, embora ocupasse lugar no alto escalão dos
Diários Associados. Camelo era, ainda e acima de tudo, homem de elevada
cultura.
Onde quero chegar com esse introito, passo a esmiuçar.
Era época do dissídio coletivo da categoria e havia certo impasse nas
negociações quanto ao percentual apresentado pelos jornalistas. No vai e vem
das negociações, em que pese se tratar de tema sério, havia sempre quem tirasse
uma onda, talvez para quebrar aquele ambiente corrido de redação com máquinas,
telefones e aparelho de telex naquela barulheira. Não sei precisar quem - se
Cleriston, Lailson ou Wilde Portela, todos profissionais do traço – produzira
um desenho de um Camelo que aparecera num painel em plena redação, chamando a
atenção de toda a gente. Aquilo causaria um tremendo reboliço, posto que tivera
endereço certeiro.
Naquela manhã adentra à redação, para checar a
veracidade da brincadeira, um grande amigo do Dr. Antônio Camelo, digamos seu
guardião, sem que ele mesmo o elegesse. Zuza, o babão a quem me refiro, saiu “bufando”
de raiva com o que vira. Falaria com o Dr. Carmelo sobre aquela falta de
respeito. Onde já se viu um homem da estatura daquele diretor executivo,
servindo de galhofa numa redação de jornal. E lá foi Zuza enredar. Contou sua
versão, mas só falava de galhofa sem mencionar o desenho na parede. Conseguiu
chamar a tenção de Camelo e o levou à redação. Queria que ele visse com seus
próprios olhos:
- Tá vendo, doutor, o que fizeram com o senhor?
Ao se deparar com o quadro na parede Camelo causou decepção ao amigo Zuza. O diretor deu uma das mais frouxas gargalhadas que já se ouvira naquele recinto:
Ao se deparar com o quadro na parede Camelo causou decepção ao amigo Zuza. O diretor deu uma das mais frouxas gargalhadas que já se ouvira naquele recinto:
- Muito criativo, Zuza. Isso merece um prêmio e não
uma reprimenda!
Na parede além do desenho havia a seguinte
frase: “No Diário e no deserto só ele sobrevive”.
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