segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Você sabe com quem está falando?!

Não é sobre o filósofo Mário Sérgio Cortella, nem sua palestra que vou comentar. Ao contrário do que muitos pensam, vou falar de carnaval, bumba-meu-boi, cavalo-marinho e a burra-calu divertindo a criançada e demais carnavalescos, em Tejipió, lá pras bandas do Recife. Mas recomendo a tal palestra a quem interessar possa. Quando a Física Quântica sugere a existência de multiverso ao invés de universo, torna-se mais que sensato o cuidado com o uso da expressão que dá título a este texto. Como bem diz Cortella nós somos o vice treco do subtroço.
Voltemos ao carnaval que, em cujas brincadeiras e festejos, um chará meu e seu pai saíram às ruas e se esbaldaram, cada um com uma fantasia no corpo e várias na mente. Carlinhos “Folião”, o filho, incorporava um papangú muito marcante no carnaval de Bezerros, agreste pernambucano; seu Fernando, o pai, era um eletricista muito respeitado em todo o bairro, brincava numa burrinha cujo caçuá (cesto de cipó, taquara ou vime próprio para usar com cangalha nas costa do burro, cavalo ou jumento no transporte de alimentos). Noutras regiões brasileiras seu nome é jacá.
O utensílio servira ao pai para conduzir tudo que atenuasse a sede, aqui empregada em sentido mais que figurado. Era já final da tarde quando os dois, pra lá de Bagdá, se encontraram nas evoluções, e um guri sapeca, apimentando a brincadeira, arrancou o rabo da burrinha atribuindo o feito ao papangú, ambos irreconhecíveis àquela altura. Seu Fernando deu meia volta para conferir a desfeita. O guri, não satisfeito, enganchou o rabo nas vestes de Carlinhos. Seu Fernando, cambaleando, vê qual fora o destino do rabo de sua burrinha. Havia sido arrancado, impiedosamente, por aquele "bicho dos infernos". Não se conteve, partiu pra cima e dominou o papangú pela goela:
- Você quis caçoar da minha burra, seu cabra safado!
- Cabra safado é você, seu fela-da-puta!
O papangú, açoitado que fora, deu um golpe e jogou a burrinha, caçuá e domador ao chão.
- Êpa! Venha devagar seu filho duma égua: Você sabe com quem está falando?
- Não sei nem me interessa saber. Vai simbora, otário!
- Deixa meu filho te pegar, desgraçado. Eu sou Fernando “Eletricista”.
- Oxi! Levante, homem, vamos pra casa: Eu sou Carlinhos “Folião”.

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