quinta-feira, 5 de março de 2015

Falando sério

O homem só valoriza aquilo em que se (re)conhece com profundidade. A partir do momento que valorizamos algo, tendemos a querer proteger. Assim ocorre com a diversidade cultural, o maior patrimônio da humanidade. Aquilo que somos ou representamos ser, buscamos proteger e promover a partir da profunda compreensão do nosso significado e do porque sermos o que somos. Uso uma expressão já recorrente nas minhas intervenções, a de que somos vários brasis. Há uma diversidade cultural sem precedentes, e nas mais abrangentes áreas da cultura. Talvez ou certamente por isso, Darcy Ribeiro nos eleve à condição de “Civilização dos Trópicos”, dado à miscigenação de raças, com tantas nuances e riquezas. A fusão de europeus, índios e negros a priori, juntando-se aos irmãos de todas as matizes e credos dos quatro cantos do globo, forjaram um povo diferenciado dos povos daquelas regiões do mundo. Línguas, dialetos, costumes, valores e todos os demais traços culturais são eminentemente humanos. Carecemos ver o outro, numa concepção de alteridade onde a existência do "eu-individual" se expanda para o Outro. Somos diversos, somos fecundos. Isso há de ser protegido, promovido!

Vivemos um tempo terrível, onde a luta de classes tão evidenciada na obra de Marx, é insistentemente maquiada por aqueles que “legalmente” detém o poder de persuasão midiática ou mesmo pela omissão do estado em se utilizar do seu poder coercitivo em favor das minorias. Como proteger e promover a diversidade se não estabelecermos, entre nós artistas, produtores, gestores, uma agenda mínima de aproximação e conscientização dos verdadeiros beneficiários dessa diversidade: o povo brasileiro! É essa gente que deverá se beneficiar do Vale-Cultura. Carecemos fazer valer essa conquista.

No bojo do meu discurso faço a defesa da economia criativa, intrinsecamente ligada à diversidade cultural que buscamos proteger. Mas dá-me arrepios imaginar que os RAMBOS de Sylvester Stallone e os EXTERMINADORES DO FUTURO de Arnold Schwarzenegger, mais meia dúzia de enlatados mal formadores da sociedade juvenil (contracultura da Paz), mundo afora, seja adquirida nos carrinhos-de-DVDs (nada contra eles) que circulam nas grandes avenidas e ruelas pelos brasis que não queremos mais adormecidos em “berço esplêndido”. Nossos gigantes, protagonistas do rep, hip hop, capoeira, coco de embolada, repente, os palhaços e demais brincantes. Músicos, poetas, atores, cineastas, dançarinos, bailarinos e todos os que tentam sobreviver de algum tipo de arte, precisam ser vistos. Nossas culturas simbólicas, sociais, ambientais carecem ser apropriadas por nossa gente brasileira. O documento de Doha e todos os que tratam dessa temática da diversidade cultural serão importantes, mas coadjuvantes se empoderarmos os verdadeiros protagonistas: O brasileiro de todos os brasis!

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