sábado, 2 de maio de 2015

A marmita e o cheiro no ambiente

–Não precisava mostrar o conteúdo de sua sacola, moço!

–Fi-lo porque qui-lo. Por desencargo de consciência.

–Mas ninguém sugeriu que o senhor mostrasse―, disse-me a funcionária educadamente.

Apressei-me em mostrar a marmita e os biscoitos a fim de evitar constrangimentos, informei-a.

Dias depois, atento ao velho ponteiro de uma balança não acreditei no resultado. Caminhei duas quadras, outra balança me espreitava à chegada. Subi, conferi, admirei-me: havia perdido algo em torno de seis quilos de massa corpórea. Nem precisei de um Spa para ficar assim tão esbelte, assumindo os riscos que essa minha estripulia pode acarretar à saúde. Uso os números para uma consulta ao Dr. Google e lá fico sabendo que meu Índice de Massa Corpórea – IMC acusa 22,72. Sabendo, ainda, que para minha altura o peso ideal deveria ficar entre 65,59 e 83,61 kg.

Estou, portanto, dentro da mais absoluta normalidade. Mas não foi assim que entenderam algumas colegas de trabalho. Houve espanto talvez pela barba por fazer. Então correram a recomendar cuidado com a alimentação, repouso, sono...

Explico em detalhes. Uma chega com marmita à mão me fazendo lembrar dos tempos de minha mãe, obrigando-me levar lancheira com aquele cheirinho gostoso de coisa caseira. Mesmo alegando que almoçara (como poucos milhões de mortais, neste planeta), não a convenci. Vi-me obrigado a trazer a tal marmita para servir de janta ao anoitecer.

Pus a marmita em sacola plástica junto com um pacote de biscoito degustado pela metade. Em um mercado da Boa Vista, havendo necessidade de comprar o básico alimentar para o café da manhã e lanche vespertino, dirijo-me ao caixa. Carrinho na fila chego, vejo as compras deslizando em direção à funcionária atenta aos itens, fazendo a leitura ótica, um a um.

Lembrei, então, da marmita que conduzira junto ao saquinho de biscoitos. Pus-me a explicar que o segurança não viu necessidade em por lacre naquela minha sacola. Abri-a, saquei a marmita cuja transparência denunciava o arroz, macarrão, farinha, feijão e um bife de encher a vista. Para não deixar dúvidas retirei a tampa e um cheiro gostoso tomou conta do ambiente.

Sorrindo com a cena, colada ao meu carrinho de compras, vinha Maria Luiza Rolim, uma “deusa” do Diário de Pernambuco, a quem me dirigi explicando a antecipação para evitar possível constrangimento na passagem pelo caixa:

–Desde o meio-dia estava ali acondicionado, meu almoço, agora tornado janta. Explicava, ela sorria.

Para não fazer desfeita, dado o esmero e cuidado, com a colega que me oferecera tal refeição, comi ao chegar em casa. Ontem rendi minhas homenagens aos trabalhadores da indústria farmacêutica e de louça sanitária. A massa corpórea, ainda bem, manteve-se no patamar de outrora.

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